Um dia você vai receber uma avaliação negativa #1
- thaisyounesco
- 17 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de ago.
Uma crítica ruim machuca porque parece um espelho. Mas, muitas vezes, é um reflexo distorcido. Ela reflete mais o gosto ou a frustração de quem escreveu do que a sua obra. Por isso, criei um filtro que me ajuda a lidar com elas sem deixá-las virar verdades. Chamo de Filtro dos 3 Cs:
1. Conteúdo – O que está sendo criticado?A crítica aponta algo real sobre sua história ou sua escrita? É uma análise ou apenas um “não gostei”? Se for gosto pessoal, não há o que mudar. Tem gente que detesta Senhor dos Anéis, e tudo bem. A história é o que é.
Outro dia vi alguém dizendo que não lê livros em que o par romântico tem cabelo grande. Os meus sempre têm. Vou mudar por causa disso? Jamais. Essa pessoa não é meu público.
Agora, se a crítica for bem embasada e indicar um ponto fraco da escrita, como ritmo, estrutura, fluidez, é hora de ligar o alerta. Quando recebi uma crítica pontual sobre um aspecto da minha escrita, concordei. Sabia que aquilo precisava de revisão, mas, por pressa, deixei como estava. Em breve, terei que fazer uma nova edição. (Essa pressa toda, pra quê mesmo?)
2. Consistência – Essa crítica se sustenta?Ela apresenta argumentos? Dá exemplos? Mostra onde você pode melhorar? “Não gostei do romance entre Fulano e Sicrano” é muito diferente de “Fulano não foi bem desenvolvido, perdeu função na história e sumiu da trama”.
Crítica rasa? Ignore.
3. Contexto – Quem está dizendo isso e por quê?A pessoa gosta do gênero? Foi com a expectativa errada? Leu com atenção?
Já me disseram: “Achei que era um romantasia sáfica pela capa, me decepcionei.” Mas o livro não é romantasia. É uma fantasia política, entre irmãs que disputam o trono. Tem romance? Sim, mas não como essa pessoa esperava. Porém isso está na sinopse. Então, não é minha culpa.
Depois de aplicar esse filtro, pergunte a si mesmo: “Se essa crítica fosse feita a um autor que eu admiro, eu acharia justa?”
E agora vem o ponto central: a única maneira de evitar que críticas doam tanto é confiar na qualidade do seu texto. E essa confiança nasce da edição.
Muita gente acha que editar é revisar erros de português. Mas isso é uma revisão gramatical. Antes disso, vem a edição de texto, que mexe com estrutura, cortes, repetição, ritmo, furos de enredo, cenas soltas, diálogos artificiais… tudo que separa um rascunho de uma obra profissional.
“Ah, Thais, mas isso não é o que você faz como leitora crítica?” Sim, esse é o trabalho da macroedição. O leitor crítico aponta onde está o problema e o autor modifica. Já a microedição é mais minuciosa, e quem atua diretamente nela é o editor de texto ou copidesque. Ele mexe no seu texto sem dó. No Brasil, é uma das funções mais subestimadas pelos autores independentes. E tudo bem. Você pode fazer sozinho, desde que saiba o que procurar.
Mesmo que escreva bem, todo autor precisa de edição. Porque ninguém enxerga os próprios vícios com clareza. Microeditar é onde o texto deixa de ser só escrito e passa a ser lapidado.
Você não precisa acertar tudo na primeira versão. Mas precisa reescrever como quem acredita que aquela história merece ser lida. As pessoas podem não gostar da sua história, mas nada poderão dizer sobre a qualidade da sua escrita se você estudar! ( meu lema, tá? )
Na próxima edição da Corte, vamos mergulhar no primeiro tópico da microedição: Consistência de narrador, o famoso POV. |




Comentários